quarta-feira, 6 de maio de 2009

Epístola

Tu és errante. Indomada. Tu és a cálida lembrança de dias felizes, quando a incredulidade do que não me pertence era fato. Fato esse, que agora pertence a mim, e a todas as bocas vorazes que me lembram de cada detalhe sórdido da minha falta de sorte de não te possuir. Boca voraz? Não é só tua boca que é voraz. É teu olhar que tangencia o meu discretamente para os que não vêem. Mas que é tão indiscreto para mim. Somente para mim. Tu diz: “Não é de propósito!” Da mesma forma que não é de propósito a maneira que te desejo. Que desejo o teu odor doce que embriaga qualquer cômodo por onde passas e que somente eu sei quantificar. Que desejo teu cabelo longo. Moldura de uma face afilada, esbelta, onipresente em meus olhos. Teus olhos? As portas do inferno, do meu inferno dantesco. Desejo teu corpo nu, de bruços, deitado em uma cama com lençóis de cetim púrpura. Banhado timidamente pela luz azul da lua, que por sua vez se torna uma megera por não querer mostrar-me o todo de meu desejo. Teus seios delicados, que parecem ter sido esculpidos como o único propósito de pertencerem as minhas mãos ansiosas. São a carceragem da minha mente. Suas coxas, me aprisionam num delírio vertiginoso, por saber que elas guardam toda sua luxuria. Mas tu não és minha... A única coisa que me pertence de ti é a ruína que tua ausência me causa. O desalento no peito já sofrido pelas desilusões de outrora. Sei que esse é apenas um prelúdio efêmero de uma história de amor que nunca irá fazer parte do livro que o destino odioso custa a demorar de finalizar. Sei que em breve isto tudo fará parte da nostalgia cega que sentirei numa terça-feira chuvosa. Mas enquanto tal momento épico não me livra de ti, gatuna de minha alma. Faço esta epístola para outorgar todo esse desejo que um dia será moribundo, e acabará no limbo dos sonhos perdidos...

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