sexta-feira, 8 de maio de 2009

Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! deus, será que o senhor se zangou
e só por isso o Sol se arretirou
Fazendo cair toda chuva que há

Senhor, eu pedi para o Sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Meu Deus, se eu não rezei direito
o senhor me perdoe,
eu acho que a culpa foi
desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher
os meus olhos de água
e ter-lhe pedido cheinho de mágoa
pro Sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir p/ acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

Gordurinha & Nelinho

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Epístola

Tu és errante. Indomada. Tu és a cálida lembrança de dias felizes, quando a incredulidade do que não me pertence era fato. Fato esse, que agora pertence a mim, e a todas as bocas vorazes que me lembram de cada detalhe sórdido da minha falta de sorte de não te possuir. Boca voraz? Não é só tua boca que é voraz. É teu olhar que tangencia o meu discretamente para os que não vêem. Mas que é tão indiscreto para mim. Somente para mim. Tu diz: “Não é de propósito!” Da mesma forma que não é de propósito a maneira que te desejo. Que desejo o teu odor doce que embriaga qualquer cômodo por onde passas e que somente eu sei quantificar. Que desejo teu cabelo longo. Moldura de uma face afilada, esbelta, onipresente em meus olhos. Teus olhos? As portas do inferno, do meu inferno dantesco. Desejo teu corpo nu, de bruços, deitado em uma cama com lençóis de cetim púrpura. Banhado timidamente pela luz azul da lua, que por sua vez se torna uma megera por não querer mostrar-me o todo de meu desejo. Teus seios delicados, que parecem ter sido esculpidos como o único propósito de pertencerem as minhas mãos ansiosas. São a carceragem da minha mente. Suas coxas, me aprisionam num delírio vertiginoso, por saber que elas guardam toda sua luxuria. Mas tu não és minha... A única coisa que me pertence de ti é a ruína que tua ausência me causa. O desalento no peito já sofrido pelas desilusões de outrora. Sei que esse é apenas um prelúdio efêmero de uma história de amor que nunca irá fazer parte do livro que o destino odioso custa a demorar de finalizar. Sei que em breve isto tudo fará parte da nostalgia cega que sentirei numa terça-feira chuvosa. Mas enquanto tal momento épico não me livra de ti, gatuna de minha alma. Faço esta epístola para outorgar todo esse desejo que um dia será moribundo, e acabará no limbo dos sonhos perdidos...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Diálogo...

Hazel: Posso fazer uma pergunta boba?

Morte: Claro. Manda.

Hazel: É mais de uma pergunta. Olha... Hã... Por que a gente sofre? Por que a gente morre? Porque a vida não é boa o tempo todo? Por que não é justa?

Morte: Essas perguntas não são bobas, Hazel. Para alguns são as únicas perguntas que interessam.

Hazel: Então você não vai responder?

Morte: Claro que vou, mas é um assunto meio complexo e tem um monte de respostas. E as respostas não significam nada... Não são perguntas bobas, mas é como perguntar "Quando é púrpura?" ou "Por que terça-feira?", se é que você me entende...

Hazel: Não muito.

Morte: Bem. Eu acho que em parte tem a ver com contrastes. Luz e sombra. Se você nunca teve dias ruins, como vai saber se teve dias bons?
Mas em parte é apenas isto: Se você vai ser humano, tem um monte de coisas no pacote. Olhos, um coração. Dias e vida.
Mas são os momentos que iluminam tudo. O tempo que você não nota que está passando... É isso que faz o resto valer.

Hazel: Ahh... Eu tive um desses. Acho. Quer dizer. Talvez não fosse, mas poderia ter sido. Foi quando eu conheci a Foxglove. A gente estava vivendo em Nova York, em Greenwich Village. Eu queria que a gente nunca tivesse saído de Nova York. Eu não sei dirigir, por isso nunca vou a parte alguma em Los Angeles.
Bem, isso foi na época em que ainda morava na casa que explodiu, o que é outra história e até bem empolgante apesar de ficar meio estranha no fim. E no começo. E no meio também foi bem estranha, pensando melhor...
Enfim...
...E a gente sentou num muro e se abraçou. Então começamos a ouvir uma música vinda de um prédio do outro lado da rua.
Não era música gravada: era o som de gente tocando tambores de metal.
Eu estava tão feliz. Eu sabia que amava a Foxglove. E sabia que ela me amava. Fiquei tão transbordante de felicidade que achei que meu coração ia estourar!

Morte:
Que coisa bonita.

Hazel: Não muito... Embora eu também achasse isso até ano passado.

Morte: O que aconteceu?

Hazel: Bem, eu estava na cama com a Fox e perguntei: "Você lembra aqueles tambores de metal..."?
... E ela não lembrava. Não se lembrava de nada daquela noite, nem da banda, nem da conversa, nem dos beijos, nada.
Eu me senti...
...estranha
Antes disso, aquilo era nosso momento especial. Depois... Eu me senti esquisita, como se tivesse que tomar conta daquela noite. Como se tivesse de me lembrar dela, me preocupar com ela... Porque a Fox não lembrava mais. E ninguém mais sabia daquilo além de mim.

Era isso que estava tentando dizer, não? Acho que... A gente está preocupada demais em viver pra parar e perceber que está viva. Mas às vezes a gente faz isso. E é o que faz todo o resto valer a pena.
Ela está quase aqui não é? ...

domingo, 3 de maio de 2009

Constatações.

Eu vejo o futuro, aliás, suponho. Suponho que minha vida em breve mudará, seja ao virar uma esquina, seja sentada no sofá assistindo um programa qualquer de domingo. Irei contar o conto do meu cotidiano para dezenas de amigos. Viverei o grande amor que toda mulher há de viver, seja amando quem amo, seja amando quem irei amar. Terei sábados de farra, e dias seguintes de ressaca, moral ou física. Não suportarei mais cigarros. Escutarei músicas diferentes das que escuto, sem abandonra minhas raízes. Darei um beijo na minha mãe, e outro no meu pai. Casarei. Irei pensar em me separar. Ficarei cansada de tanto trabalho. Terei preguiça do meu trabalho. Acordarei de ressaca. Irei amar mais as minhas amigas, mas uma irá me abandonar. Conhecerei outros amigos. Os amarei, sem abandonar minhas amizades raízes. Pintarei o cabelo de outras cores. Irei rir. Irei sofrer. Por amor, por raiva, por amor, de novo. Acordarei com torcicolo. Mudarei de emprego. Lerei um livro interessante. Assistirei um filme interessante. Também um filme sobre um livro interessante. Terei medo. Serei corajosa. Falarei pelos cotovelos em dias de alegria. Ficarei calada em dias de tristezas. Viverei. Viverei. Viverei. Morrerei.