quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
e tudo se acabar na quarta feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

Tom Jobim

Ao eterno...

Quero expurgar de minha alma a ira que consome cada sorriso do meu rosto. A dor que aperta o peito, as lágrimas que descem a cada lembrança de ti. A linha tênue do ver e não tocar já se mostra como corda de forca que tira meu fôlego a cada respiro lacônico em tuas passagens. Se amar é dor, prefiro morrer dormindo. Incapaz de sentir. Meu coração calejado, como mão de sertanejo, já não suporta mais cicatrizes.

Não quero esperar mais pelo tempo. Ele não me serve mais. Ele não cura mais. Apenas apara as arestas, para que mais uma vez eu escreva palavras como estas... Para que mais uma vez eu chore, para mais uma vez constatar a verdade indubitável que sem ti não sou nada.

Os poetas têm a poesia, os boêmios a boêmia. E o que resta para mim? Um traço incompleto no papel, esperando pelo infinito. Esperando pelo “eterno enquanto dure”. Enquanto isso o único eterno que minha vida conhece é o buraco que tua ausência deixa. O vácuo de felicidade que se torna cada vez maior, consumindo qualquer esperança... Assim como a sombra consome a luz no fim da tarde.

Na descontente solenidade de esperar qualquer palavra tua, aguardo calado e distante, me apegando na felicidade alheia... Sugando os sorrisos dos outros e esperando que algum dia esses sorrisos sejam meus. E que sejam eternos enquanto durem...
Eu não existo sem você
Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver

Não há você sem mim
E eu não existo sem você

Livro de letras - Página 40, de Vinícius de Moraes, José Castello - Publicado por Companhia das Letras, 1991, ISBN 8571642133, 9788571642133 - 253 páginas
Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Antologia poética‎ - Página 90, de Vinicius de Moraes - Publicado por Editôra do Autor, 1965 - 259 páginas

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Palavras...

Porque só no fim nós valorizamos as coisas boas que aconteceram em nossas vidas? As despedidas sempre tiveram um gosto mais doce do que os encontros. Pelo menos para mim. Talvez seja por conta do fim de ciclo. Ou talvez seja pela incapacidade de me sentir parte de algo... É tenho que confessar! Nunca me senti pleno em ocasião alguma! Sempre me faltou algo. Nunca soube dizer o quê. Mas sempre me senti num sofá, assistindo um filme que algumas vezes se mostrava uma comédia, outras um drama e isso sempre me trouxe uma certa inquietação, que ao longo dos anos fui aprendendo a camuflar. Às vezes pro outros, às vezes para eu mesmo. No entanto nunca me vi livre, não desse sentimento, do sentimento de falta... De uma saudade de algo que nunca vi, nunca conheci... É certo dizer que tal sentimento assola várias pessoas nos dias de hoje. Concordo plenamente com isso! Mas, pelo menos todas as pessoas que me foram apresentadas e que pude identificar tal sentimento, sempre se “curavam”. Talvez por comodismo, ou quem sabe por realmente encontrarem o que lhes faltava. Independente disso, sempre fiquei a margem de tal solução. E a cada dia que passa vou percebendo que talvez não seja esse o meu destino.
Apesar disso tudo não posso reclamar da minha vida, realmente não posso ser tão ingrato assim. Afinal vivo numa condição boa... Ótima família, saúde, não passo por necessidades financeiras, pelo menos não aquelas desesperadoras. No entanto minha necessidade se manifesta na incapacidade de ser feliz, feliz de fato, e quando penso nisso fico ainda pior! Talvez eu realmente seja um ingrato! Entendam! Claro que tive MOMENTOS felizes, porém como disse, foram momentos, e quando penso neles nem posso afirma certeiramente se realmente de fato foram felizes. Lembro apenas de uma ocasião que com certeza me senti completo. Tinha sete anos, e estava na casa de minha avó materna. De repente, no início da tarde começa a chover. Corri para rua e deixei-me molhar. Apesar da chuva forte, as nuvens deixavam passar os feixes de luz do Sol e enquanto as gotas batiam em meu rosto, me senti seguro, senti que fazia parte de algo. Sentimento que nunca mais experimentei.
Tenho bons amigos. Tive bons amores. Porém nem esses me serviram para curar minha solidão. Não uma solidão material. Mesmo ao redor de todos os meus afetos ainda me sinto só... Como se eu não estive lá, ou como se eles não estivessem lá. Carência? Talvez! Não me nego mais a vergonha de conclusões, no entanto já me neguei a tempos tentar achar alguma condição que destrua esse sentimento da mesma maneira que ele me destrói. Minha vida é um filme cujo meu papel é de mero observador que teve o controle remoto negado.
Talvez meu erro seja esperar algo que não exista. Esperar algo que as pessoas que conheço não possam me dar! De esperar algo das pessoas que ainda nem conheci. De esperar um amor que me ame da mesma maneira que a amarei! Talvez... Afinal quantas vezes estendi a mão para aqueles que precisaram, mas enquanto eu me afundo ninguém sequer escuta minha angústia. Angústia que já existe há muito tempo, e simplesmente não passa. Uma dor que se aprende a conviver. E que com o passar do tempo já faz parte de você. Nem me imagino mais livre dela... Livre disso tudo... Livre... É tão verdade que os poucos que se deram trabalho de lerem até aqui, simplesmente esquecerão cada palavra, cada frase, cada lágrima deste texto. Afinal é como disse, são palavras. São apenas palavras... É como “eu te amo”. Simplesmente uma frase. Somente isso. Queremos muito ouvir isso, não é? Mas será que somos capazes de compreender o que está por trás das palavras?
Realmente é só no fim que nós valorizamos as coisas boas que aconteceram em nossas vidas...