sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Por entre os dedos

Me abaixo e apanho uma concha. O vento levanta a areia branca que toca meus pés. As ondas estão pequenas, quase marolas. Tem pouca gente na praia, pois ainda é muito cedo e não estamos em temporada de férias. Um senhor com um bigode esquisito de seus 50 anos passa ao meu lado a passos largos fazendo seus exercícios matinais. Uma mulher baixa e gorda levando um cão a tira colo tenta acompanhá-lo. Olho para a concha em minha mão. Branca com rajas marrons e pretas. Dou uns passos a frente e logo as ondas me acertam os tornozelos. A água esta fria. Sinto um leve tremor no corpo, mas logo a sensação se torna agradável. O céu esta azul como nunca esteve. Quase não há nuvens no céu. O sol brilha como se estivesse no seu máximo e a areia reflete seus raios me fazendo cerrar os olhos. Ergo o braço e arremesso a concha de volta ao mar com toda minha força. Ela bate na água, resvala e novamente sobe esbarrando de frente com uma onda. Some. Por um momento desejei esta no lugar da concha. Um vendedor de cocos passa e me oferece um, dispersando meus pensamentos.

Volto para a areia e me sento perto de onde as ondas morrem, ainda tocando meus calcanhares. A maré parece que esta enchendo, a tirar pelas ondas que cada vez mais avançam em minha direção. O silencio é quebrado por gritos de crianças que brincam com seus castelos de areia.

Escrevo palavras soltas na areia com a ponta dos dedos que as ondas insistem em apagar. Mais uma vez tive um desejo. Desejei que as ondas apagassem minhas memórias assim como as palavras. Desligo-me alguns segundos do mundo, mas logo volto ao real. O mundo não deixa muito tempo para os sonhos.

Olho para os lados e vejo que a praia não esta mais tão vazia.

Avisto ao longe, quase que imperceptível, um barco que logo desaparece entre as ondas.

O sol já começa a queimar minhas costas e me levando novamente. Entro no mar e deixo as ondas me acertarem. Uma a uma golpeiam meu corpo me fazendo balançar. Mergulho. Silencio. Calmaria. A água não esta mais tão fria e a sensação e confortante.

Mais silencio. Abro os olhos, mas não enxergo nada a frente. Sinto as ondas passarem sobre minha cabeça. O tempo parece que passa mais devagar. Vem-me na mente momentos de minha infância e novamente uma sensação de bem estar. Mesmo em baixo d’água avisto o sol que me observa imparcial. Resta-me pouco ar nos pulmões mas mesmo assim ainda mergulho mais fundo e toco a areia abaixo de mim. Apanho um punhado de areia e subo. Puxo todo o ar que é possível e sinto-o inundando meus pulmões. Nado de volta a praia e deixo lentamente a areia me escorrer por entre os dedos, assim como minha vida.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Bon Iver - Flume

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Por Que, distante ?

Distante Por Que?

Se tudo que ficava na estante vc quebrou...

Se tudo que eu tocava vc matava....

Se tudo que vc matava eu amava....


Distante Por Que?

Se nada é o inicio da sua dúvida....

Se nada é suplica da renuncia...

Se por nada vc clamava....


Distante Por Que?

Se nem fomos olhar o mar.....

Se nem começamos a chorar....

Se nem vontade vc tem de estar....


Distante Por Que?

Se é alguém que veio me dizer.....

Que no meio do tudo ou do nada....

Eu ainda sinto você.....


Distante Por Que?


G. Gomez

domingo, 18 de outubro de 2009

Biografia de uma despedida

Depois que você desligou o telefone me recordei da noite que você foi embora. Não sei se era pelo fato da certeza que eu tinha que nunca mais ia te ver, mas não me recordava de te ver tão linda como naquela noite.

Passamos o fim de tarde de sábado como sempre passávamos. Abraçados na grama da Praça Verde lendo o mesmo livro, depois subimos para o café e ambos pedimos um cappuccino, conversamos sobre coisas corriqueiras, talvez por medo de falar sobre sua partida. Pagamos a conta e fomos dar uma última volta. Apesar de não falarmos sobre o assunto você parecia empolgada com a viagem, já eu estava meio distante, pensando a respeito e ao mesmo tempo não querendo pensar sobre.

Paramos em frente a uma barraca de artesanato, você olhou algumas pulseiras e escolheu duas idênticas, azuis com o símbolo do infinito feito de metal prateado. Quando olhei você estendia a pulseira.

- Promete que nunca vai tirar do braço?

- Prometo.

Pagamos e nos dirigimos ao carro. Quando chegamos à sua casa, ajudei você a terminar as malas que faltavam. Colocamos na sala para facilitar. Você foi tomar banho enquanto eu fazia seu prato preferido, carbonara.

- Vou sentir falta de você cozinhando para mim.
Foi a primeira vez que você pareceu triste naquela dia.

- Sério Rapha, por que você não vai comigo?

- Amanda, já conversamos. Esse é seu plano não é meu. Não posso simplesmente largar tudo assim. Você já se prepara a tempos para isso. Eu não.

- É eu sei... Vou sentir muita falta... Da gente, desse último ano...

- Eu também, não duvide disso.

Depois que terminamos de comer, lavei os pratos enquanto você terminava de se arrumar. Pedimos o taxi para o aeroporto, fomos o caminho inteiro calados. Descemos. Acompanhei você até o Check-in. Depois até o embarque.
Foi quando você falou à frase que eu passei um ano esperando escutar.

- Eu te amo!

- Eu também te amo!

Rapidamente, você pegou sua mala de mão e se virou como se estivesse tentando evitar a despedida. E eu fiquei ali parado olhando você entrar na área de embarque. Sei que mesmo depois que você entrou ainda fiquei algum tempo lá parado, esperando, desejando que você mudasse de idéia e voltasse. Mas você não voltou. E como combinado, ambos nos mantemos distantes. Durante dois anos.

Biografia de um telefonema

- Alô?

- Rapha?

- Sim, quem fala?

- É Amanda

- Amanda?!

- Não se lembra mais de mim?!

- Lógico que lembro... É que já faz dois anos.

- Pois é. Faz muito tempo mesmo que nós não nos falamos.

- E como está às coisas, ainda está em Paris?

- Não, estou em Belo Horizonte. Vim passar o fim de ano aqui.

- Legal, como estão o Renato e a Gabi? Faz tempo que não falo com eles também.

- Estão bem, vamos sair daqui a pouco, eles ficaram de vim me pegar lá pelas 22h.

- Legal.

- E aí, vai sair hoje?

- Não, tô meio caseiro. Vou ficar em casa assistindo filme.

- No sábado? Que deprê!

- Nem tanto é legal ficar um tempo sozinho de vez enquanto.

- Ei, senti tua falta. Tenho pensado muito em ti nesses últimos meses.

- É você fez falta também.

- O Renato tava falando que talvez você viria para cá, é verdade?

- É eu tava pensando em ir.

- Mas você vem?

- Ainda não decidi.

- Hum... Ei vou me arrumar. Sabe como eu demoro né!

- Tá certo. Legal falar contigo.

- Também. Saudades de você! Beijo, amanhã te ligo de novo.

- Beijo, boa festa.

- Boa noite, tchau!