domingo, 4 de outubro de 2009

Biografia de um encontro

Estava sentado no sofá, olhando aquelas pessoas se divertindo, quando te vi. Notei que você olhou rapidamente antes de se voltar para as pessoas que conversavam com você. Um tempo depois você se aproximou e sentou ao meu lado.

- Cansado ou bêbado?

- Nenhum dos dois.

- Então porque da distância?

- Simplesmente estou sentando.

- Interessante...

- O quê?

- Achava que essa história de se fazer de misterioso para atrair companhias era coisa de tiozões de 30 e poucos anos no meio de pessoas mais novas, não imaginava que caras com 25 faziam isso.

- Tenho 26, você errou por um.

- Mais interessante ainda. Eu te acuso e você não se defende.

-Não sou interessante. Só estou sentado.

-Hum, entendo! Falta de auto-estima.

-Pode ser!

-E o rapaz que não tem auto-estima, sentado no sofá sem estar bêbado ou cansado e que não quer dar uma de misterioso tem um nome?

- Raphael

-Prazer, Amanda.

Neste momento pensei no porque daquela conversa. Não estava ali por nenhuma razão que você citou, mas mesmo assim você pensou naquilo tudo. Também não conseguia entender como uma pessoa iniciava uma conversa com um estranho daquela forma. Tão sincera, intima.

-Bom Rapha, se é que eu posso te chamar de Rapha. O que está bebendo?

- Uísque

-E o que está achando da festa?

-Bom é uma festa. Não tem muito no que se pensar disso. São apenas pessoas na casa de um amigo interagindo.

-Você não estava interagindo com ninguém antes de eu sentar ao seu lado.

-Talvez por causa da minha falta de auto-estima

-Estou te incomodando?

- Não.

-Isso é bom! Você fuma?

-Sim

-Tem um cigarro?

-Claro

-Carlton Crema? Não conhecia esse. É forte?

-Não, é mais fraco que o vermelho.

Enquanto você acendia o cigarro eu pensei no porque você insistia naquela conversa. Foi quando eu me lembrei no que já tinham me dito, mas antes mesmo que eu terminasse o pensamento você falou.

-Você é daqueles caras que pensam em tudo não é?

-Como assim?

-Sei lá, acho que você está agora tentando analisar o porquê eu estou aqui falando com você, mesmo com esse seu desdém.

-Pode se dizer que sim

-Talvez seja pelo fato de eu achar isso interessante, ou talvez eu esteja pensando o mesmo, ou talvez não tenha explicação nenhuma. Mas no fim não importa por que independente do porque eu vou continuar aqui falando com você.

-O fato, de eu tentar entender as coisas te incomoda?

Foi nessa hora que você me beijou. Respondendo a minha pergunta e me deixando várias outras. Não lembro bem o que aconteceu depois disso. Sei que ficamos horas sentados naquele sofá e quando vi, a música já tinha acabado e restavam apenas algumas pessoas conversando baixo na escuridão da casa. Outras já dormiam amontoadas nos quartos, a carteira de cigarros já seca na mesinha em frente. Já não me sentia assustado com a maneira que você chegou. Quando você já tinha me desarmado, você me fez uma pergunta que nunca fui capaz de responder.

-Porque as pessoas mais difíceis de amar são sempre aquelas que mais precisam ser amadas?

Um comentário:

  1. Simplesmente maravilhoso o texto. Daqueles que se mostra como espelho, aonde você se encontra, vê alguma semelhança com você mesmo sem necessariamente ser completamente clichê e que não exija nenhuma reflexão ou flexão das suas próprias opiniões. Muito interessante!

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