sábado, 31 de janeiro de 2009

O palhaço da piada.

É segunda feira. Primeiras horas da manhã. Dia claro. Chega um cara no escritório de um psiquiatra. Ele está visivelmente acabado. Barba por fazer, cabelos loiros desgrenhados, olhos azuis, claros como água, um olhar de Linda Blair em "O Exorcista", cigarro quase no filtro, calças sujas e rasgadas. Suas pálpebras estão vermelhas de um jeito que não dá pra saber se ele dormiu pouco ou se chorou muito. Por via das dúvidas, parece ambos. Ele espera na sala ao lado, causando na secretária um certo temor que todo suicida em potencial é capaz de causar. Suas mãos tremem. Seus dedos parecem inchados - abuso no álcool, talvez.
Ele entra e já conta qual é o problema:
- Minha vida é uma merda, doutor. Uma merda, uma merda, uma merda. Não consigo encontrar prazer em nada. Não consigo gostar de nada. Olho pro mundo e acho que este não é meu lugar. Estou deprimido, estou morrendo. Acho que já estou morto. Não consigo nem mais sorrir.
O psiquiatra olha para a criatura que tem diante de si e deixa seus olhos deslizarem até a janela. Lá fora, deita o olhar sobre um cartaz do circo e lembra do espetáculo que viu com os filhos, no domingo.
- Meu amigo, eu sugiro que o senhor tire um dias de folga e vá ver o circo. Mais exatamente: assista ao espetáculo do Grande Pagliacci, o maior palhaço do mundo. O senhor vai rir como jamais riu em toda sua vida. Prometo ao senhor.
O homem recolhe o chapéu, resignado e, sem dizer uma palavra, anda em direção à porta.
- O senhor não entendeu, doutor. Eu sou o Grande Pagliacci.