quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Bianco.


Apagou tudo. Cortou cada rosto. Jogou todos os livros. Comprou novos móveis. Assim que ela começou seu dia, assim é que ela colocou seus primeiros pés direitos no ano. Uma novidade limpa, um limpo branco, um esquecimento induzido, um coma acordado, um corte podado, um acidente meticuloso. Cada cantinho do seu quarto de paredes de massa corrida, escondidas por debaixo da tinta branca, estava limpa, alguns furos aleatórios estampavam o vazio que o vertical carregava com peso. Uma cadeira azul de madeira usada encostava no canto direito da sala, logo ao lado da janela aberta, sem cortinas. Ela olhava panoramicamente seu kitnete para ter certeza de que seria um começo, já que o recomeço ainda tardaria de vir, principalmente porque nem havia começado pela primeira vez para ter um recomeço. Afinal, não seria um recomeço já que ela nunca começou de verdade, nem optara começar a vida. Resolveu então jogar tudo fora, começar em pratos limpos, literalmente também, para ser um começo por opção. O fato de não poder renascer ela superaria, já que é meio difícil voltar no tempo, diria impossível com as tecnologias tão ultrapassadas de hoje, se comparada com a dos extraterrestres, é claro.
Havia anos que ela planejava isso, havia meses que vinha juntando dinheiro pra comprar tudo novo, mesmo que fosse usado. Deu de ombros aos conhecidos, sabia que no fundo eles a invejavam, quem não gostaria de ter a coragem? Então doou seu gato Tobias, vendeu seu opala bege, trocou suas roupas em brechós, mudou de cidade, circulou alguns empregos do classificado, e recomeçou. Bem, começou.

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